E agora o que faço com o tempo que me sobra?
O meu Avô morreu. Acho que ainda estou a interiorizar tudo isto. Como a minha vida toda mudou em apenas 9 meses. Como pude ficar sem as pessoas que mais amo. Não quero este mundo em que vocês não estão! Não quero aprender a viver sem vocês. Não quero continuar a fingir que não dói apenas porque os outros não compreendem porque choro tanto a morte de dois velhotes.
Pude despedir-me de ti, Joquim. Não sei se me ouviste. Estavas já tão mal. Desculpa ter passado o tempo a chorar junto à tua cama. Eu sabia que não podias continuar assim. Não sei se me ouviste mas se sim, obrigada por teres ouvido o meu pedido. Obrigada por teres partido! Naquele dia o meu maior medo foi que ficasses naquele estado muito mais tempo. Vi-te a sofrer e só consegui pedir que partisses.
Ninguém vai compreender porque as nossas tardes eram só nossas. Mesmo que não soubesses o meu nome. A última vez que te vi acordado passaste a tarde a dar-me festinhas no cabelo e na cara. Lembras-te? Guardo o teu toque como se fosse agora.
Desculpa se nem sempre tomei as decisões mais acertadas mas acredita que tudo o que decidi foi sempre a pensar em vocês e na recta final em ti. Foi para minimizar os teus medos. Foi para não te deixar passar qualquer necessidade. Foi sempre no teu bem-estar que pensei.
Agora sinto-me perdida, sabes? Dediquei-me tanto tempo a vocês, aos vossos assuntos, que agora sinto que me sobra tempo. Já não tenho porque ir a vossa casa. Já vendi o carro. Já estou a tratar da habilitação de herdeiros. Já estou a tratar da lápide. Mas não consigo ir ao cemitério. Não aguento ver que no fim de tudo isto nem vos consegui deixar juntos.
Estou farta da morte. Se calhar o melhor é não gostar de ninguém, é mais seguro...
Quanto ao outro assunto, Avó... não tem que ser, não é? Não fui talhada para fazer as minhas relações serem duradouras, por muito dedicada que seja. Que calhar o mal é mesmo eu. Não sei... já nem me apetece tentar perceber. Não luto por mais ninguém. Já não...
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